Compartilhar a cruz

setembro 08, 2020




Entre Alexandria e Cartago, no norte da África, havia uma cidade chamada Cirene.

Estima-se que ela chegou a ser um centro intelectual e, em seu auge, alcançou uma população de cem mil habitantes.

Dentre eles, um se destacou, de forma especial: Simão.

Embora os relatos bíblicos não detalhem a figura desse cireneu, é certo que, durante a via dolorosa de Jesus, ele estava em Jerusalém.

E desempenhou nobre papel: ajudou o Cristo a carregar Sua cruz.

Naquele vergonhoso dia, ele cruzou com a comitiva que se destinava ao Gólgota, o monte da crucificação.

Era comum que o condenado carregasse sua cruz até o local onde deveria ser executada a sentença de morte. No entanto, Jesus, alquebrado pelos açoites, pelo espancamento e pela coroa de espinhos que recebera, estava muito debilitado.

Em certa etapa do caminho, as forças se esgotaram e ele caiu, sob o peso do madeiro, que levava aos ombros. Os soldados temeram que o condenado não conseguisse chegar até o Calvário.

Por isso, amparados pela lei vigente, obrigaram Simão a carregar o madeiro pelo restante do caminho.

Pouco sabemos sobre esse homem. Os Evangelistas Marcos, Mateus e Lucas narram alguns detalhes. Ele tinha dois filhos, Alexandre e Rufo.

Não se tem informações precisas do que lhe aconteceu depois. Todavia, ele passou para a História como aquele que carregou a cruz de Jesus.

A província romana de Cirene deu alguns filhos ilustres ao mundo.

Mas, nenhum deles conseguiu a recompensa que aquele anônimo trabalhador alcançou, ao cooperar com Jesus Cristo, sem sequer conhecê-lO, naqueles momentos de testemunho e de definição muito graves.

* * *

Esse episódio nos enseja diversas e profundas reflexões.

Sem qualquer projeção social, sem esperar transpor o caminho de sofrimento de Jesus, Simão compartilhou de Suas dores, de Suas angústias, fez-se verdadeiro servo, dividindo com o Mestre o peso da cruz.

Sermos servos é o que nos torna verdadeiros cristãos.

Assim como o cireneu, de acordo com nossas possibilidades, podemos auxiliar o próximo a carregar a cruz que lhe cabe. Para tal, a caridade, a benevolência, o amor.

Coloquemo-nos à disposição. Agindo pelas vias do bem, doando-nos, podemos nos tornar instrumento da Presença Divina na existência de nossos irmãos.

Também, a exemplo de Jesus, quando as forças nos faltarem, reconheçamos naquele que nos estende a mão o agir de Deus que jamais nos nega auxílio, que nunca nos deixa sem resposta.

Ora agindo como o Cristo, ora como o cireneu, somos todos instrumentos do poder divino, que é conosco em todas as esferas da vida, amparando-nos e envolvendo-nos com Sua misericórdia, justiça e bondade.

* * *

Todos temos nosso Calvário, nossas dores, que nos direcionam para a perfeição, para a luz.

Nesse caminho, no entanto, jamais caminhamos sós.

Precisamos uns dos outros e a caridade, virtude que nos permite compartilhar as cruzes que todos carregamos, é a rota segura para chegarmos ao destino.

Pensemos nisso!

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